Rua das Gaivotas 6
Aniversário 10 anos Rua das Gaivotas 6
Duração: 240min
ENTRADA LIVRE: : : : : : : : : : : : :
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A partir das 21h!: : : : : : : : : : : : :
Reservas: €
Uma Gaivota é uma ave marinha e cosmopolita. Um andorinhão migratório, monogâmico, que ciranda entre o céu e a terra, que inverna no mar e nidifica na costa, em telhados ou em cômoros de salinas.
Ave divagante, sobrevive tanto nos meios estuarinos como nos aterros sanitários de cidades impenetráveis.
Alimenta-se tanto de berbigão e caranguejos como de detritos.
Apanha insetos em pleno voo, mas também ataca baleias vivas ou resgata peixes mortos nas redes dos pescadores.
Uma gaivota sacia a sede com água doce e salgada e expele os cristais salinos em lágrimas brancas.
Uma gaivota, símbolo da liberdade, só voa quando há vento!
No coração de Lisboa, entre o Tejo e o Atlântico.
Entre o centro e a periferia. Entre a ausência e a presença e numa luta titânica contra as múltiplas cadeias de pastéis de nata e drinks de fim de tarde a que esta cidade se vê condenada, a Rua das Gaivotas 6 tem sido, na última década, a ventania necessária para causar tempestades no mar.
Um espaço divagante, marinho e cosmopolita, que pesca em voo picado no mar alto a arte que acolhe no seu ninho em terra. Um quartel para as invernadas e um abrigo pós-nupcial de cada primavera. A Rua das Gaivotas 6 é um abrigo para quem se desorienta e percorre o único caminho que ainda não foi mapeado, esbaforindo-se; tropeçando de quando em vez num tesouro ou fazendo explodir aquela mina que ninguém sabia que lá estava à nossa espera para nos impedir de continuar.
A Rua das Gaivotas 6 é um espaço de criação para quem deseja dar os primeiros passos, novos passos, outros passos, e com essa caminhada desenhar novos voos: picados, planados, estratosféricos, rasteiros, com penas, com motores, com e sem para-quedas.
A Rua das Gaivotas 6 é um espaço de ocupação de possibilidades.
Tem como ocupação, A POSSIBILIDADE!
Não há um cânon para o próximo experimental (nem dois nem três!), nem uma ideia pré-definida de como poderá ser o futuro, mas há sempre, em cada época, uma vontade inabalável de não sermos apenas uma excepção no combate à precariedade e à extinção.
Não queremos ser um meteoro único numa cidade que tornou o turista num local, e o local num exilado. Queremos ser o exercício regular de uma sociedade que pratica arte em sintonia com o planeta que habita e não com um sistema de apoio a uma Indústria (seja ela cultural, científica, petrolífera ou de armamento).
Queremos contribuir para criar um contexto permeável à arte e não uma oportunidade para artistas se tornarem permeáveis e solúveis em qualquer contexto!
Queremos respirar o ar dos tempos, não queremos ser o seu perfume!
Queremos ter a casa sempre a arder, e com esse fogo adubar o chão para que cresçam acácias e cerejais; não queremos queimar a terra para vender os corpos a falsos madeireiros enquanto plantamos mais eucaliptos.
Querides artistas, querido público, Seremos, para vós, uma alfaiataria olímpica, costurando à medida cada traje a exibir em cada quotidiano, recusando ser só mais um prêt-a-porter numa cadeia neo-liberal que nos obriga a espartilhos vários.
Queremos ser uma comunidade EXTRA LARGE! De gente que vive acordada, aflita, desvairada, desolada, com urgência.
Queremos escrever os tempos, não os queremos catalogar nem ser arrumados por eles.
Queremos fazer parte do presente, no presente, marcando presença!
Queremos ser descendentes convictos das circunstâncias, mágicos apurados das contingências e mestres do que queremos que não volte a acontecer.
Para que não aconteça!
Queremos ser um bom ascendente de um futuro que seja de novo uma promessa e não uma permanente ameaça!
Queremos ser o lugar onde se ensaia o mundo, onde se redefinem os dias e se aprende com o que aí vem sem esquecer o que já fomos.
Seremos o eco do mar na acrópole. A bússola no olho de um furacão.
Um pacto com o que se quer, com o que se deseja, sem um tem de ser ou um só pode ser assim; um pacto reflectido na lente da câmara que nos fotografa.
No olho desta ave rara tem de haver um rastro permanente de liberdade. Uma sede de experimentação e revolta, uma fome de mudança, e para tal, temos de procurar o que desconhecemos na companhia de quem procura o mesmo num planeta que é assustadoramente e improvavelmente único e sem igual!
Ou seja: queremos um compromisso mútuo com a radicalidade – nós, artistas metemo-nos debaixo de fogo, mas vocês, público, também!
Queremos ao nosso lado uma audiência que escolhe fascinar-se ou incomodar-se e não adquirir mais um produto que lhe prometa agrado e conforto.
Queremos viajar juntos até onde se pode voltar a respirar sem máquinas e sem emplastros.
Queremos transpirar.
Transbordar.
Ir mais fundo.
Umas vezes com garra, outras terminando a noite com mossas, mas sempre avançando na direcção de um oásis de vidas com sentidos. Queremos abrir a temporada gritando ESTAMOS AQUI! Em LISBOA!
No coração da gentrificação, a escancarar portas, a ultrapassar abismos!
E QUEREMOS TUDO!
Pedimos muito?
Claro!
De que outra forma se começa uma revolução?
Marcamos encontro no nr 6.
Se a porta, por um acaso, estiver fechada, toquem à campainha ou procurem aquela frecha que provoca a vossa corrente de ar!
Patrícia Portela e Gaivotas