por DIOGO LOPES
Daqui vejo parabólicas, cabos de plástico, cartões, tintas, fita-cola no chão, uns arames, tecidos e vários outros materiais convivendo naquilo que parece ser uma organização humana. Vejo desenhos que parecem querer interligar-se em diálogo tão permanente quanto o permanente pode ser e que só no limite recorre a palavra para se fazer explicar. Não me estranha este sítio. Esta construção através do tempo em que todas as coisas estão em constante mudança, sendo que estão sempre em relação umas com as outras. Não me estranha. É um processo de continuidade. Um dizer: Aqui não começou, aqui não termina. Só segue. Sento-me ao lado da tinta fresca procurando uma outra perspectiva enquanto se escreve sobre o branco gritando que não é do branco que viemos, que viemos das parabólicas e dos fios de plástico e dos cartões, das tintas abandonadas àsombra de grandes edifícios em construção, do fogo viemos mas também viemos do verde e ainda o vemos, lá ao fundo em segundo plano querendo aproximar-se. Entre a tinta fresca e as mãos sujas vai-se imaginando os pés em terra criando e recriando realidades em forma de protesto de resistência com a tarefa infinita de criar possibilidades de pensar e mudar onde estamos agora e para onde estamos a ir.