Um dia, um agregado de rochas e minerais cai sobre a terra. O embate no solo racha-o, revelando o seu interior: um recheio de números como os que conhecemos agora em forma de peças de dominó. Um alquimista e estudioso dos fenómenos da Natureza consegue observar directamente o meteorito que cai mesmo no meio do seu espaço de trabalho. Este novo elemento (o número) causará um enorme transformação nos métodos de observação por ele aplicados e será responsável por mudanças profundas dentro da sua comunidade.

Antes da queda deste objecto e antes dos números não havia contagem, dosagem, medidas. Técnicas de observação — como o uso de lentes ou registo fotográfico — e até algumas de manipulação da matéria — como cozinhar, ou esculpir — eram já usadas, contudo sem uma consciência numérica. Práticas como a tecelagem, o cálculo, o planeamento urbano e o voto contado não existiam. Nos seus estudos até este momento, as medições eram feitas através de métodos de comparação: a sombra de um rochedo servia-lhe de referência dimensional, a escuridão da noite servia-lhe de referência temporal, a superfície das folhas de referência geométrica e as pedras de referência de peso. O que acontece quando estes números aparecem e nos são dados, quando a referência se torna em algo mais abstracto e dissociado do nosso meio ambiente? O que acontece à Ciência, à observação e à nossa interação com o mundo material? De onde vêm estes números?