por Laura Gama Martins
DEPOIS DE AEROFONE DE NUNO MARQUES PINTO
Um aerofone é uma invenção, tudo o que é invenção tem o cunho do humano, porque é conceito. No entanto, um aerofone pode estar em qualquer lugar, na natureza, no mundo artificial, lá fora, ou em nós.
Uma sala no escuro
era do lugar sentado
um público sereno
estragado?
Podia ter apenas o olho fechado
que a figura no palco
a silhueta sentada
como escrivã
apenas entoava
a solidão de uma voz
que imita o som do pensamento
uma solidão de dentro
cantada
A solidão feliz
de se ter voz
O que pode a poesia
O que pode ser a poesia?
ooooooooooo
onomatopeias
os nossos sons
o meu
gerar som como quem gera um feto
a possibilidade de se ser som
a transformação do visual em sonoro
A concreta da poesia, nos autores portugueses e brasileiros, que sem receio dos mapas de códigos da escrita, orientaram para o lado oposto, os caminhos da sua caligrafia.
Na sala escura, adivinho que talvez não fosse preciso ver nada, só ouvir. Entrar de olhos vendados, sentar e atentar ao que emerge do palco.
O ser humano [também] é um instrumento, do seu [a]parecer ao seu ser, é o bicho que liberta a frágil vertigem entre o entendimento e o seu desassossego.